domingo, 2 de dezembro de 2007


"Brincar com crianças não é perder tempo, é ganhá-lo; se é triste ver meninos sem escola, mais triste ainda é vê-los sentados enfileirados em salas sem ar, com exercícios estéreis, sem valor para a formação do homem."

( Carlos Drummond de Andrade )

Artigo

A importância da História em Quadrinhos no processo de alfabetização e letramento.

Carla Jamille C. de Araújo
[1]

RESUMO
Esse trabalho tem como objetivo abordar a importância da História em Quadrinhos no processo da alfabetização e letramento, levando em consideração que esta estimula a imaginação e a criatividade das crianças e desperta o interesse pela leitura e escrita.

Palavras - Chaves: História em Quadrinhos, alfabetização e letramento

Antigamente, saber ler e escrever era um privilégio de poucos e quem o sabia tinha grandes possibilidades de mudança na classe social. Hoje, com a grande revolução que o mundo vem passando e as transformações acontecendo de forma acelerada, o domínio da língua, oral e escrita, é fundamental para a participação social efetiva, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz conhecimento. Ao ensiná-la, a escola tem a responsabilidade de garantir a todos os seus alunos o acesso aos saberes lingüísticos, necessários para o exercício da cidadania, direito inalienável de todos.

No processo de alfabetização e letramento, os instrumentos de escrita e leitura são fatores fundamentais desse período que o individuo está sendo submetido a conhecer o mundo a sua volta e o significado das coisas e fatos que lhe são apresentados.

A história em quadrinhos, nesse processo de alfabetização e letramento, é de grande importância, pois além de divertir, esse gênero literário também pode fornecer subsídios para o desenvolvimento da capacidade de análise, interpretação e reflexão do leitor (Borges, 2001). As HQ podem também estimular a imaginação e a criatividade e despertar o interesse pela leitura e escrita.

O processo de alfabetização e letramento vem ganhando espaço no contexto atual sobre os problemas de domínio da habilidade de uso da leitura e escrita. No Brasil, por exemplo, problemas a respeito de alfabetização e letramento se mesclam e se confundem, pois o conceito de um está enraizado no outro; a alfabetização se refere ao desenvolvimento de habilidades da leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, o letramento.

O uso das HQ como instrumento de aprendizado auxilia na alfabetização e no letramento, pois oferecem oportunidades para as crianças, desde cedo, ampliarem seus conhecimentos sobre o mundo, aumentando sua criatividade e aguçando sua imaginação. As HQ tornam o ensino mais lúdico e ajudam a construir uma sala de aula descontraída e prazerosa.

Na escola, a criança deve interagir firmemente com o caráter social da escrita, e ler e escrever textos significativos. A sua inserção na cultura escrita deve ser através da participação em experiências variadas com a leitura.

Para aprender a ler e a escrever é preciso pensar sobre a escrita, pensar sobre o que a escrita representa e como ela representa graficamente a linguagem. Algumas situações didáticas favorecem especialmente a análise e a reflexão sobre o sistema alfabético de escrita e a correspondência fonográfica. As historias em quadrinhos por meio das imagens permitem que a criança compreenda o que está lendo ou imagine o que poderia estar aí escrito, fazendo com que essa leitura passe a ser expressiva, gere idéias e proporcione novos conhecimentos.

Freire (2003) afirma que do ponto de vista do uso da linguagem escrita, pode-se dizer que as HQ têm algumas particularidades que interessam aos educadores, apresentando uma mistura de imagens e textos. A imagem é um instrumento mediador de aprendizagem muito importante e que muitas vezes é subestimado.

A imagem deve ser vista como parte integrante do processo de significação, ela auxilia o aluno a compreender o texto, pois a criança não lê apenas as palavras, ela “lê”, ou atribui sentido, também considerando as ilustrações, bem como o contexto social em que a leitura se dá.

Pode-se dizer que, além da leitura para qualquer idade, as histórias em quadrinhos, pelas suas peculiaridades, colaboram na alfabetização, pelo fato de dirigir indicações que remontam a significados, mesmo sem o conhecimento da palavra escrita.

Segundo Freire (2003), as HQ possuem algumas características próprias, como o uso de balões, onomatopéias e a forma do texto. Os balões são elementos característicos das histórias em quadrinhos, que “apontam” para o personagem que está falando. As onomatopéias servem para diagnosticar sons e, também, permitem o conhecimento das letras do alfabeto. É mais simples ler um som do que uma palavra no início da alfabetização. É possível "ler" uma história em quadrinhos através das marcas de sons, pela apresentação dos balões, etc. Por exemplo, se o balão possui uma seqüência de bolinhas na direção do personagem, este está apenas pensando.

De acordo com Freire (2003) “do ponto de vista educacional o trabalho pedagógico com HQs convoca a aplicação de vários conhecimentos e demanda a construção de outros tantos novos”. A maioria das histórias traz temas cotidianos e de interesse da criança, o que permite ao leitor se reconhecer no personagem e verificar situações semelhantes às de sua própria vida. O leitor é levado a buscar experiências em seu conhecimento de mundo para preencher as lacunas existentes entre uma cena e outra, interagindo com o texto, adquirindo assim novos conhecimentos.

A história em quadrinhos é um produto da imaginação, no entanto, algumas revelam a realidade social e até desmascaram suas mentiras, podendo, através do imaginário, levar o leitor à reavaliação de sua vida e até incorporar novos valores e normas, para aplicá-los à experiência.

O professor tem um papel fundamental para desenvolver e incentivar a atividade de leitura nos alunos e tornar a sua aula atraente, estimulante, já que é o grande responsável no processo de alfabetização e letramento. Nesse processo, é interessante também transformar a sala de aula em um espaço de leitura que estimule a exploração dos diversos sentidos dos textos, o confronto de interpretações, a relação do ficcional com o real, de forma a fazer da leitura uma experiência significativa e prazerosa.

Nas estórias em quadrinhos, quando fala-se nos personagens, é possível perceber como as crianças identificam-se com eles Pode-se trabalhar de diferentes formas e temas com os personagens, como por exemplo, as diferenças que podem ser vistas em Cebolinha e Chico Bento, pois ambos falam diferente. O cebolinha tem um problema denominado "dislalia", tem uma dificuldade na articulação que propicia a troca do "R" pelo "L". Já o Chico Bento vive em uma região rural. Os professores podem trabalhar com o Chico Bento não só para corrigir suas falas, mas para trabalhar o respeito ao regionalismo que existe, de forma a mostrar as duas formas da língua: culta e coloquial.

A utilização de histórias em quadrinhos em sala de aula pode proporcionar, além de facilidades de compreensão de conteúdos, o desenvolvimento da criatividade por parte dos alunos, pois as apresentações em figuras são mais interativas, levando a um melhor desempenho da memória (Frizzo e Bernardi, 2001). As crianças são conquistadas não só pela estrutura gráfica das HQ, como também é despertado o desejo de desenhar os personagens, contribuindo dessa forma para a criatividade.

De acordo com Freire a alfabetização “possibilita uma leitura crítica da realidade, constitui-se como importante instrumento de resgate da cidadania e reforça o engajamento do cidadão nos movimentos sociais que lutam pela melhoria da qualidade de vida e pela transformação social” (1991, p.68). A importância da alfabetização, juntamente com o letramento, como etapas iniciais da aprendizagem da escrita devem ser reconhecidas, visto que contribuem para formar cidadãos reconhecidos e conscientes de seu papel na sociedade.

Conclusão

As histórias em quadrinhos é um recurso pedagógico muito rico, que, seguramente, colabora para estimular o trabalho de sala de aula e a construção – reconstrução de aprendizagens. As Histórias em Quadrinhos, além de despertar a criatividade e a imaginação infantil, contribui no processo de alfabetização e letramento, uma vez que estimulam o prazer e a busca de leituras por ser de grande interesse das crianças.
















REFERÊNCIAS:

BORGES, L. R. Quadrinhos: Literatura gráfico-visual. In: Revista Agaquê, vol. 3, n. 2, Núcleo de Pesquisas de Histórias em Quadrinhos da ECA – USP, 2001.

FREIRE, F. M. P. O trabalho com a escrita: a produção de HQs eletrônicas. In: Anais do XIII Simpósio Brasileiro de Informática na Educação – SBIE – UNISINOS, 2003.

FREIRE, Paulo. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991. 68 p.

FRIZZO, B.; BERNARDI, G. Gibiquê - Sistema para Criação de Histórias em Quadrinhos. Centro Universitário Franciscano, Trabalho Final de Graduação II. Santa Maria, Novembro/2001.



[1] Estudante do 4º semestre do curso de Pedagogia da Universidade Federal da Bahia.